sexta-feira, 3 de outubro de 2008

LAZER E CULTURA – Uma ferida aberta na nossa cidade

É impressionante o teor das discussões que encontramos nas comunidades do orkut de nossa cidade, a grande maioria dos tópicos trata de picuinhas políticas, outra grande parte fala das “festas”, das “bandas”, das cachaças, porém em meio a isso tudo encontramos muitas reclamações do tipo “Eu creio que todas as pessoas que moram aqui acham a mesma coisa, essa cidade tem muito pouco a oferecer em relação ao lazer.” (Eduardo). Reclamações de gente que vota, que paga seus impostos e que não vê o retorno deles nos vários setores da administração pública, até mesmo as que não reclamam e que inconscientemente preenchem seu ócio cultural com músicas da indústria de massa que só falam de cachaça e de sexo ou “tomando uma” nas mesas de bar, pagam seus impostos. E vale observar que a cerveja é uma mercadoria das mais tributadas e uma das mais consumidas na cidade.

Pois assim é, as pessoas reclamam de espaços para o lazer inexistentes na nossa cidade “concordo, tanto os jovens quanto os casais como os velhos
prescisam de diversão e aqui não tem nem uma praça.” (Marisdete) e tudo continua na mesma, se alguns quiserem esses direitos têm que investir neles, como é o caso das inúmeras praças construídas na cidade com investimento privado, assim como os calçamentos, etc.

Como sempre friso, nossa cidade tem um poder econômico muito forte, mas como muitos também reclamam “...Santa Cruz peca pela falta de visão (competência) dos seus empresários, administradores públicos e porque não, de sua população...” (Wallace Arruda). Eu chamo isso falta de responsabilidade social, uma das causas de enfraquecimento de empresas na atual conjuntura do nosso país, que hoje começa a cobrar seus direitos e que espero não demore a contagiar nosso povo. Nossos grandes empresários que financiam as campanhas políticas não cobram dos seus financiados um retorno desse investimento em ações e políticas públicas, eles querem apenas favorecimentos pessoais. O restante da população fica dividida entre seus funcionários, que na maioria dos casos, ainda não se libertaram dos cabrestos de seus patrões, e seus consumidores, que engolem tudo calados.

Ninguém cobra dos poderes públicos nas urnas e nem depois delas, quando estão eleitos os seus representantes, que não representam ninguém, a não ser a si próprios, tratando uma gestão pública como um “meio-de-vida”. Não temos quem defenda nossos valores culturais “É uma pena que nossa história esteja morrendo com os mais velhos e as novas gerações não dêem o devido valor e não resgatem e nem mantenham as raízes culturais dessa terra.” (Rozângela).

Nossos políticos não cumprem com o seu dever, talvez nem conheçam a nossa constituição que é clara em seus fundamentos, logo no primeiro capítulo quando os estabelece. A cidadania é o primeiro que é posto de lado, o poder que emana do povo, em nossa terra, é completamente desvirtuado. No segundo capítulo isso fica ainda mais claro “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.” Aqui isso é uma utopia!

O poder público tem o dever e não é favor, como é a nossa realidade, de fazer cumprir o que lá está escrito “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais. (Cap 3 seção 2 art 215) e ainda mais “A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do País e à integração das ações do poder público que conduzem à: I - defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro; II - produção, promoção e difusão de bens culturais; III - formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas múltiplas dimensões; IV - democratização do acesso aos bens de cultura; V - valorização da diversidade étnica e regional." (Emenda nº 48).

Alguém já procurou saber quais são os recursos que temos destinado à cultura na nossa cidade e onde e como eles são aplicados? Talvez não tenhamos tempo a perder com isso, a sulanca não deixa brechas! Porém as brechas da população na fiscalização da gestão desses recursos e na cobrança de transparência e eficiência é que faça com que nossa realidade seja exatamente essa que estamos vivendo.

Pra finalizar, tenho muita esperança que essas pessoas que reclamam no orkut cheguem ao ápice de sua indignação e organizem-se em torno dessa causa, antes que seja tarde demais e não possamos mais salvar nosso patrimônio e ele se perca por descaso de todos. Como parece ser a vontade de nossos gestores públicos. Isso não pode e não deve ficar assim!

3 comentários:

Marcelo Clemente disse...

Santa Cruz do Capibaribe é um grande parque industrial, uma cidade de trabalho e de comércio. Diferente de muitas outras cidades do país, Sta Cruz oferece oportunidades a todos, sem exceção, de terem uma renda, por mínima que seja. Isso é positivo e um sonho de qualquer liderança política. No entanto, até o momento não temos conseguido converter a força de nossa economia em retorno social em formas de lazer e de cultura para o que aqui vivem. A ausência de lazer é tão grande que as pessoas chegam a vender alguns de sues bens para viajar no Carnaval. Períodos de campanhas políticas viram uma festa, um raro momento de lazer. Aproveito para cumprimentá-lo e para parabenizá-lo pela iniciativa deste blog!

Anônimo disse...

O comentário do "anônimo" mostra como anda o nível cultural de alguns moradores de Sta. Cruz.
Mas falando sobre o texto, você mais uma vez tem toda razão Carlos, os únicos divertimentos na cidade são as bares e ficar pra lá e pra cá na Av. 29 de Dezembro. Até parece que todo mundo tem que gostar disso. Uma cidade como a nossa carece e muito de lazer. Temos um teatro que vive às traças e que só de vez em quando tem alguma apresentação que valha a pena. Cinema? Se um morador de Sta. Cruz quiser assistir a um bom filme, ou aluga ou vai até Caruaru ou Campina Grande para poder assistir.
Quando será que alguém com a cabeça mais aberta irá realmente investir culturalmente nessa cidade? Resta-nos continuar esperando...

Carlos MOSCA disse...

Oi Núbia, o comentário do anônimo foi apagado, nada de censura, mas não dizia respeito ao assunto em questão, era só propaganda de outro blog especializado em "politicagem". Valeu!