segunda-feira, 5 de setembro de 2011

I JABRE - LABORATÓRIO DE ROTEIRO Congo, 14 a 18 de julho de 2011.


Nós, produtores de audiovisual oriundos das cidades de Alagoa Grande, Carrapateira, Catolé do Rocha, Congo, Coremas, Cuité, João Pessoa, Teixeira, Nazarezinho, Picuí, Serra Branca, do estado da Paraíba, reunidos à margem do Açude Cordeiro do município do Congo, Paraíba, referendamos totalmente o conteúdo da Carta de Coremas, que segue abaixo, escrita em 09 de abril de 2011, na cidade de Coremas, Paraíba, uma vez que reconhecemos a importância de suas apreciações e sugestões para a descentralização e para o pleno desenvolvimento do setor do audiovisual paraibano,  na expectativa de que elas venham a ser atendidas o mais urgentemente possível pelos nossos governantes.
Assinam este referendo:
  1. Allan Marcus Gomes Cavalcante – Alagoa Grande - PB
  2. Edmilson Gomes da Silva Júnior – Catolé do Rocha - PB
  3. Francisco José Rodrigues – João Pessoa - PB
  4. Gustavo Alexandre Ferreira da Silva – Alagoa Grande - PB
  5. Ighor Rafael Lins do Egito – Serra Branca - PB
  6. Igor da Nóbrega Gomes – Teixeira - PB
  7. Ismael de Azevedo Moura – Cuité - PB
  8. Ismael Moisés da Silva Santos Moura – Picuí - PB
  9. José Diones Nunes dos Santos – Congo - PB
  10. Kennel Rógis Paulino – Coremas - PB
  11. Lucas Alves Pereira – Carrapateira - PB
  12. Paulo Roberto de Souza Júnior – Nazarezinho - PB
  13. Ramon Batista Neves - Nazarezinho - PB
  14. Torquato Joel – João Pessoa - PB
  15. Virgínia de Oliveira Silva – João Pessoa - PB
FÓRUM DO AUDIOVISUAL PARAIBANO
Coremas, 09 de abril de 2011.

CARTA DE COREMAS

Segundo recentes dados da ANCINE (órgão estatal que acompanha e administra a aplicação prática das políticas criadas para o desenvolvimento do audiovisual no Brasil), em relação à questão estatística da produção cinematográfica na Região Nordeste, o Estado da Paraíba, atrás da Bahia e de Pernambuco, disputa o terceiro lugar com o Estado do Ceará. Uma particularidade desse fato se faz notória no processo de interiorização da produção audiovisual na Paraíba que vem se realizando de maneira intensa[1], ao lado da consolidada produção do eixo João Pessoa-Campina Grande.
Esse crescimento não se revela somente em termos da quantidade da penetração geográfica, mas também nos resultados do aumento da qualidade de nossa produção que, a despeito de toda série de dificuldades e obstáculos que habitam e traduzem o cotidiano do setor audiovisual paraibano, vem rompendo fronteiras, sendo selecionada para inúmeros festivais, conquistando um impressionante índice de premiações, tanto no cenário nacional quanto no internacional, o que nos projeta para além de nossos limites, enquanto, ao mesmo tempo, nos promove o reconhecimento de nosso imenso potencial criativo e realizador e oferece elementos para o aquecimento de nossas divisas artístico-econômicas, gerando arte, cultura, sonhos, esperança, possibilidades, emprego, prestação de serviços e renda.
Mas na Paraíba necessitamos, urgentemente, da criação de políticas públicas estaduais e municipais para o fomento real dessa nossa capacidade artístico-econômica em torno do audiovisual. Em nosso estado vizinho, Pernambuco, por exemplo, há, como aqui na Paraíba, expressiva vocação para o segmento de curtas-metragens, mas diferentemente daqui, tal produção é reconhecida tanto pelo governo que, atualmente, designa, através do 4º Edital do Programa de Fomento à Produção Audiovisual de Pernambuco, R$ 8 milhões somente para o setor do audiovisual; quanto pela academia que, em 2007, lançou o Núcleo de Audiovisual na Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, para a formação, produção, difusão e preservação da memória do audiovisual, consolidando o estado como pólo de audiovisual; enquanto, incrédulos, assistimos na Paraíba à anunciação do insólito “Prêmio” Linduarte Noronha (manchando inclusive o nome de um dos nossos maiores expoentes históricos da produção do audiovisual da Paraíba) na ordem de R$ 200 mil[2] voltados para a produção de 9 (nove) projetos de curtas-metragens oriundos, teoricamente, de todo o estado, para o qual testemunhamos concorrer até mesmo docentes da Universidade Federal da Paraíba - UFPB.
Assim, reunidos à beira das águas doces do Açude Estevão Marinho, no município de Coremas, no Sertão Paraibano, no dia 09 de abril de 2011, nós, coordenadores de festivais, artistas, realizadores e produtores de audiovisuais de todos os recantos do Estado da Paraíba, abaixo-assinados, confraternizamos com alegria a percepção do crescimento da interiorização do potencial produtivo deste setor extrapolando o eixo João Pessoa–Campina Grande e redigimos esta Carta de Coremas destinada aos gestores públicos para sugerir os seguintes pontos a serem considerados na elaboração das políticas públicas para potencializar com profissionalismo e dignidade a área da cultura, em geral, e, mais especificamente, o setor do audiovisual paraibano:
1. Pensar políticas públicas que visem realmente fomentar, defender e difundir a produção do cinema paraibano;
2. Prestigiar o cinema de autor, considerando que o “cinema de mercado” tem mecanismos de auto-sustentação e que já existem leis que beneficiam este tipo de produção. Desta forma, as políticas culturais devem atender a produtos diferenciados no que diz respeito à qualidade e ao conteúdo;
3. Garantir urgentemente a dotação permanente de verba satisfatória para o desenvolvimento e consolidação do audiovisual paraibano como Política de Estado e não como política de governo (como ainda é o Fundo de Incentivo à Cultura – Augusto dos Anjos – FIC, que além de forçar os diversos setores artísticos a disputar uma fatia do orçamento com todas as áreas da Cultura, fica ao sabor da decisão pessoal e política de cada governante) ou como prêmio sazonal, (seguindo o exemplo já citado de nosso estado vizinho, Pernambuco, bem como o do Ceará que investe mais de R$ 6 milhões neste setor!) e distribuí-la de modo descentralizado por cotas proporcionais de acordo com a densidade demográfica entre as 4 (quatro) mesorregiões paraibanas[3] (Sertão, Borborema, Agreste e Mata Paraibana), garantindo-se a possibilidade de nova redistribuição, no todo ou em parte, da cota da(s) mesorregião(ões) que, por ventura, não venha(m) a apresentar qualquer proposta ou que não as apresente(m) em número suficiente para a distribuição de todo o percentual orçamentário a ela(s) destinado, entre as outras mesorregiões que apresentaram projetos. A nova divisão também deverá ser de modo proporcional, de acordo com o número de projetos apresentados em cada mesorregião, de forma a atender o maior número possível de proponentes, sem a possibilidade de devolução da(s) cota(s) para os cofres públicos (Fundo de Incentivo à Cultura do Estado, Fundo Municipal de Cultura...) ou de seu remanejamento para quaisquer outras áreas;
4. Prever na política de dotação orçamentária voltada para o incentivo e a consolidação do audiovisual paraibano tanto a existência de cotas específicas para iniciantes quanto para profissionais;
5. As comissões que selecionam os projetos de produtos audiovisuais que receberão verba de entidades públicas têm que ser compostas, essencialmente, por profissionais reconhecidamente pertencentes à categoria cinematográfica e externos à Paraíba;
6. Garantir a plena liberdade de expressão cultural e o acesso imediato, amplo e irrestrito às obras financiadas pelo poder publico, conforme destacam a Carta de Tabor, o artigo 27 da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 que afirma "Todo homem tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do progresso científico e de fruir de seus benefícios", e a Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, ao ressaltar em seu artigo 215 que "O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais";
7. Inserir o cinema brasileiro, em particular o paraibano, nas escolas, bem como proporcionar, pelo menos uma vez por mês, a ida de estudantes ao cinema para exibições de produções cinematográficas paraibanas ou nacionais, a exemplo do programa “Vá ao Cinema”, da Secretaria Estadual de Cultura de São Paulo que vem multiplicando o acesso da população aos filmes brasileiros, estimulando os distribuidores e exibidores a colocá-los na programação, remunerando produtores e diretores com a renda líquida resultante das exibições;
8. Apoiar concretamente os pontos de cultura e os cineclubes de todo o Estado, reconhecendo o seu importante papel, sobretudo, no que tange à divulgação e ao debate do produto audiovisual nacional, de um modo geral, e, mais especificamente, da produção paraibana;
9. Fomentar com recursos materiais e orçamentários projetos de:
a) formação de recursos humanos para a área do audiovisual paraibano, a exemplo dos já comprovadamente exitosos: “Viação Paraíba”, “Cinema Adentro”, “Projeto Cinestésico – Cinema e Educação”, “Paraíba Cine Senhor”, dentre outros;
b) produção de Festivais de Audiovisuais no Estado da Paraíba, a exemplo, dos: “FestAruanda” em João Pessoa; “ComuniCurtas” em Campina Grande; “CineCongo” no Congo, “CurtaCoremas” em Coremas; “CurtaCuité” em Cuité;  “Cinema com Farinha” em Patos; “Festival do Minuto do Cariri Paraibano” em Monteiro; “FestCine do SemiÁrido Paraibano” em Cabaceiras; “Festival de Cinema da Estação Ciência” em João Pessoa;
c) produção de Mostras, tais como: “Mostra Interestadual do Cinema Paraibano”, promovida pelo Projeto Cinestésico em diferentes cidades paraibanas e em três cidades do Estado do Rio de Janeiro; “Mostra de Cinema Acauã”, promovida pelo Ponto Audiovisual de Cultural Acauã em Aparecida;
d) pesquisas acadêmicas sobre a produção cinematográfica paraibana, realizadas por instituições tais como a UFPB, a UFCG, a UEPB, o IFPB e a Academia Paraibana de Cinema;
e) publicação bibliográfica (livros, revistas, jornais) e on line (sites, blogs) dos resultados das pesquisas acadêmicas.
 10. Assinar convênios com TVs públicas (federal e municipal) para veicular os audiovisuais produzidos a partir dos editais públicos (federal, estadual e municipal), proporcionando maior penetração desses produtos junto ao seu público em potencial, e oferecendo, em contrapartida, conteúdo de boa qualidade, tornando-as o escoadouro da exibição e divulgação da produção audiovisual paraibana e, sobretudo, ampliando sua possibilidade de atuação como produtoras.
Assinam esta carta:
 Alan Gomes - Alagoa Grande - RG
Alexandre Soares - Taquaritinga do Norte - PE – RG
Bertrand Lira - João Pessoa - RG
Dávila Maria da Cruz Andrade - Coremas - RG
Débora Regina Opolski - João Pessoa - RG
Deleon Souto - Patos - RG
Diassis Pires - Coremas - RG
Diego Vinícius Benevides Ramos - João Pessoa - RG
Ely Marques - João Pessoa - RG
Francisco José Rodrigues (Dudé) - João Pessoa - RG
Gian Filipe Rodrigues Orsini - João Pessoa - RG
Helena Pereira - Nazarezinho - RG
Heleno Bernardo Campelo Neto - João Pessoa - RG
Igor da Nóbrega - Teixeira - RG
Iris Mendes - Nazarezinho - RG
João Carlos Beltrão - João Pessoa - RG
José Dhiones - Congo - RG
José Gregório - João Pessoa - RG
Kennel Rógis - Coremas - RG
Laércio Ferreira - Aparecida - RG
Marcélia Cartaxo - João Pessoa - RG
Marcelo Quixaba - João Pessoa - RG
Pablo Maia - João Pessoa - RG
Torquato Joel - João Pessoa - RG
Virgínia de Oliveira Silva - João Pessoa - RG 05677176-9 – DETRAN RJ
Yaroslavia Paiva - Aparecida - RG


[1] O primeiro edital “Revelando os Brasis”, lançado em 2004, destinado ao fomento de produção audiovisual em cidades com até 20 mil habitantes, contemplou a seguinte quantidade de histórias por Estado da Região Nordeste: Paraíba (5: Jacaraú, São Sebastião do Umbuzeiro, Pitimbu, Gurinhém e Aparecida), Bahia (4), Alagoas (3), Ceará (2), Rio Grande do Norte (2), Pernambuco (1), Piauí (1) e Sergipe (1); no segundo edital, a seleção ficou assim distribuída: Bahia (4), Paraíba (3: Barra de São Miguel, Cuité e São José de Piranhas), Pernambuco (3), Alagoas (1), Ceará (1), Maranhão (1), Piauí (1), Rio Grande do Norte (1), Sergipe (1); no terceiro edital, premiou Bahia (4), Rio Grande do Norte (3), Paraíba (2: Santa Luzia e Sumé), Pernambuco (2), Ceará (2); e no quarto e último edital até o momento, Bahia (5), Paraíba (4: Conde, Vieirópolis, Nazarezinho e Aroeiras), Pernambuco (2), Piauí (2), Ceará (2), Maranhão (1) e Alagoas (1). Tais edições possibilitaram a realização de 160 vídeos digitais em todo o Brasil, 14 só na Paraíba. Somente o  edital “Microprojetos Mais Cultura” proposto pelo Ministério da Cultura, através da Secretaria de Articulação Institucional (SAI) e da Fundação Nacional de Artes (Funarte), Banco do Nordeste do Brasil S/A (BNB), Instituto Nordeste Cidadania (INEC) e órgãos estaduais de cultura de Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, contemplou, direta e indiretamente, projetos de produção e exibição audiovisuais do Semiárido da Paraíba com mais de R$ 200 mil.
[2] Que levou mais de um ano para ser entregue e, mesmo assim, após intensa mobilização da categoria!
[3] A distribuição da dotação orçamentária de modo proporcional consideraria a densidade demográfica das mesorregiões, de acordo com os dados do Censo de 2006 do IBGE, valendo-se inicialmente da seguinte proposta de divisão percentual do montante total: 2 Mesorregiões paraibanas possuem mais de 1 milhão de habitantes (Agreste e Mata Paraibana), o percentual seria de 35% para cada uma delas; uma Mesorregião tem mais de  500 mil e menos de 1 milhão de habitantes (Sertão), seu percentual seria de 20%; e uma Mesorregião tem menos de 500 mil habitantes (Borborema), seu percentual corresponderia a 10%.

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