segunda-feira, 29 de setembro de 2008

TEATRO


Grande Arnaldo Vitorino!
Faço questão de começar com elogios. Faço questão de elogiar o que deve ser elogiado. Parafraseando "Louvação".
Quem não viu vá ver o acervo do orkut dele...
Iniciativas como essa devem ser sempre elogiadas, sua página no orkut é um dos únicos espaços que temos para saber de coisas da nossa verdadeira história. Nossa "casa de memória", um sonho há muito acalentado pelo IPHACC - Instituto Pernambucano de História, Arte, Cultura e Cidadania, e por tantos santacruzenses que pretendem que seus filhos saibam alguma coisa de suas raízes, continua sonho! Nossos acervos históricos estão se perdendo, e se perderão até que alguém que esteja no poder, que é pago pra isso mas não o faz, tenha a vontade e a responsabilidade de assumir esse compromisso com a posição que ocupa e consigo mesmo - pois compromisso com nosso povo já vimos que eles nunca tiveram - e crie esse espaço tão necessário ao desenvolvimento cultural de nosso povo.
Comecei assim, como essas garotas da foto, com a vontade de me expressar e de fazer ver às outras pessoas o meu pensamento, o pensamento do meu grupo, o pensamento de um momento histórico (ironias do destino, deveria ter cursado história, talvez fosse mais fácil nas salas de aula), sem nem mesmo saber que era arte, mas com uma vontade imensa de fazê-lo. Queríamos apenas fazer... Foi com elas que tive o primeiro contato com o que hoje chamo de teatro, contato apenas como espectador, mas que marca o início da paixão pela arte. O primeiro texto "sério" que interpretei foi "Hora de dormir" de Fernando Sabino, era um dos textos do meu livro de português da 7ª Série, que meu professor Suiteberto se atreveu a dirigir e nos convidou a mim e a Fernando Amaral para interpretar, antes disso fazíamos apenas pequenos esquetes, com textos improvisados, nas datas comemorativas do Colégio Cenecista. Me afastei do teatro até acabar a universidade, sabia apenas das lutas por um espaço para o teatro santacruzense, que passou por um terreno público no final da Av. Padre Zuzinha, onde hoje fica a residência do Dr. Nanau, depois foi para outro, na Av. Braz de Lira, onde hoje fica a Praça da Paz, depois para a Av. 29 de Dezembro, onde hoje é o Supermercado Tibúrcio e acabou "nos fundos do Ypiranga", como muitos se referenciam ao informar onde fica o nosso "teatro". Enfim tivemos construída uma casa de espetáculos!
No ano 2000 quando imaginávamos que o mundo iria "se acabar" ganhamos um teatro. Na ocasião, Márcio Nunes, diretor da Cia. di Projectus Cênicos, me falava da necessidade de um teatro mais voltado para nossa cultura, da necessidade de textos com temas e linguagem nordestina. Me atrevi a escrever pela primeira vez uma peça. Pesquisei bastante os temas tratados nos folhetos de cordel e sua linguagem, métrica, rimas, etc. Surgiu então "Uma estória de trancoso - O causo do cantadô de cordé, que por astúcia do cão, arresolveu dá conta de suas duas mulé". Márcio montou e fomos muito felizes na primeira temporada de um espetáculo santacruzense, num teatro santacruzense, com texto santacruzense. Foram cinco sextas e cinco sábados de casa, senão lotada e com pessoas sentadas no chão, como foi a estréia e o encerramento da temporada, com um bom público. Depois veio a 1ª Mostra de Teatro Experimental de Santa Cruz do Capibaribe, um sucesso de crítica e de público, quatro dias de casa lotada, com textos e espetáculos criativos e temática variada: Pil Queiroz com sua "Crucifixão" espetáculo magistral e autoral (texto, direção, cenografia, figurino, interpretação); Ronaldo Nerys com "Médeia - de Eurípides - acorrentada" e uma brilhante atuação de Rosilane Salazar; Márcio Nunes e Pil Queiroz com fragmentos de textos de Guimarães Rosa e João Cabral de Melo Neto criaram "A terceira Margem do Rio e Uma Outra Estória" uma leitura dramatizada com um cenário esplendoroso onde Márcio se utilizou das bacias das lavadeiras do Rio Capibaribe cheias d'água, criando efeitos de luz inusitados; A Cia. Mais Caras de Teatro, de Fortaleza com um espetáculo de Clowns maravilhoso "Nada, Nenhuma e Ninguém; Ricardo com sua "Santa Maria Egipcíaca" e eu com "Eu os ridículos e os gênios de uma poesia".
A Cia de Márcio e sua trupe ainda tá aí na ativa, depois disso produziram, "Joca, Befa e Zeca"; "A bruxinha que era boa"; "O show do Thed"um e dois; "O Macaco Malandro"; "Depois do Café"; "Caritó é a Madrinha"; "A eleição" e tantas outras que não lembro agora, mas, porém, contudo, todavia, sempre produções de bom nível técnico e artístico. Além desses espetáculos, capitaneados por Márcio Nunes, tantos como Avani Lopes, Bethânia Aragão, Pil Queiroz, Rosilane Salazar, Márcia Feitosa, Lourdes e Estela Aragão, Aninha Silva, Jeanne Chagas, Ana Nunes, Sandra, Jorge Feitosa, Diógenes e outros que seria impossível lembrar todos, vale destacar também dois espetáculos que fizeram muito sucesso na nossa dramaturgia que foram "Brincar de Viver" e "O rio, a santa e a feira".
Pois é, nosso teatro sempre foi muito rico, embora tenha sempre sido feito aos "trancos e barrancos", quando tem apoio, geralmente é da iniciativa privada, pelo menos é o apoio mais relevante.
Nosso poder público, assim como no país inteiro, destina pouquíssimos recursos para a cultura e mais do que apoio financeiro, o teatro precisa de apoio logístico, infra-estrutura de qualidade, tratamento diferenciado. A arte exige isso para acontecer a contento.
Vivemos hoje uma realidade mórbida na nossa cidade. O teatro municipal serve muito mais para outras finalidades do que a principal, que é o teatro, como o próprio nome do espaço sugere. Muitos argumentos são utilizados como justificativa, a pouca produção, que por falta de incentivos tende a sucumbir, é um deles.
Nosso teatro nunca teve um diretor, suas leis de funcionamento não beneficiam os artistas, o espaço passa a maior parte do tempo ocioso (fechado, mofando) a renda nunca foi revertida para o benefício do mesmo, o palco nunca teve qualidade técnica para receber bons espetáculos (iluminação, piso, cortinas, tapadeiras e rotunda, altura para elevação de cenários, etc), a pauta é muito obscura, no sentido de estar vazia e poder ser ocupada preferencialmente por espetáculos de teatro... Enfim, é difícil querer fazer arte em Santa Cruz do Capibaribe!
Se for enumerar todos os fatores que desestimulam a produção teatral na cidade, teria que passar por questões políticas e até pessoais e isso não constrói. Porém nosso povo tem a vontade, o que faz com que tenhamos esperanças num futuro, que não vislumbro tão próximo, mas que podemos lutar para que se aproxime.
Quero com esse pequeno artigo, começar uma discussão acerca do fazer arte em nossa cidade. Gostaria muito da opinião e da colaboração de todos para que o assunto possa ser enriquecido coletivamente. Não sou dono da verdade, não sei tudo e nem lembro tudo. Poste seu comentário!

2 comentários:

Carlos MOSCA disse...

Errata: "A santa maria egipsíaca a que me referi é de Ricardo Ribeiro e tem como título "O ANDARILHO", um espetáculo do Projeto Solos Encontrados de SP."

márcio maracajá disse...

carlos querido,esse assunto é ploêmico, mexe com muitas coisas e pessoas, mas vamo lá, não devo nem temo ninguém.Todos sabem da minha trajetória, do meu engajamento e da minha seriedade quando o assunto é Cultura, e principalmente TEATRO.Durante anos(e foram muitos)me debati, articulei,fiz das tripas coração, dei nó em pingo d'água pra que espetáculos e eventos culturais acontecessem em Santa Cruz, mesmo sem apoio das estâncias públicas, mesmo muitos achando uma "besteira".Fiz e digo de boca cheia, fiz bem feito!!!Porque acredito no poder mobilizador, aglutinador e transformador da arte.Porque sei da carência cultural da cidade, porque acredito que a arte também educa.Porém, depois de tanto bater em pedra dura, meu pingo d'água cansou dessa bateção desigual e resolveu procurar outras pedras, ou um rio onde as possibilidades de pedras são maiores.
Nunca tive aspirações políticas,nunca ganhei dinheiro fazendo arte nessa terra, por isso debandei, de cabeça erguida, com dignidade pra outras paragens, após longo período de investidas.Não sou otimista em relação ao futuro de Santa Cruz.Não sei o que pode acontecer, mas não creio que transformações ocorram em pouco tempo, haja visto que semear pra colher mais na frente tá difícil de acontecer.Propostas para tal quem tem???
Quem deixará de pensar no parque da feira pra pensar num teatro para o povo, para as crianças nas escolas???
quanto tempo leva e quanto custa montar um espetáculo????Quantas pessoas são necessárias pra tal empreitada???
Triste chegar nessas conclusões, mas mediante os fatos, não me resta outra coisa.
Continuo fazendo meu teatro aqui em São Paulo,aprendendo muito, vivendo novas dificuldades, mas o que é mais importante: sendo respeitado e bem tratado enquanto artista e homem de teatro que sou.Avani ficaria muito orgulhosa por tudo que tenho feito por aqui.As pessoas que gostam realmente de mim também.
Acho que é isso.
Axé!!!
Evoé!!!
Inté!!!!
Márcio Maracajá(aqui em SP virei maracajá, rsrsrsrs)