terça-feira, 28 de outubro de 2008

Camelos do Ingá em Festival Internacional

Mais uma vez Santa Cruz do Capibaribe será representada num festival de cinema e desta feita, um festival internacional, o que nos alegra em dobro, pois além das exibições no Rio de Janeiro, o documentário “Camelos do Ingá” de Carlos Mosca e Ronaldo Nerys também será exibido na Índia. O documentário foi um dos filmes selecionados na 13ª Mostra Internacional do Filme Etnográfico, que acontece no Rio de Janeiro de 11 a 19 de novembro de 2008.

A Mostra Internacional do Filme Etnográfico é um festival de cinema documentário, que se realiza desde 1993. O Festival tem como objetivo exibir na Mostra o que há de inédito em torno do chamado ‘documentário etnográfico’, sem abrir mão de fazer retrospectivas, selecionar clássicos do gênero em produções nacionais e internacionais, num amplo painel de filmes com debates, mesas redondas e seminários.

O cinema etnográfico traz a diversidade das culturas para a tela, nos fazendo refletir sobre a dinâmica da vida social, suas questões e temas. Trata-se de um olhar privilegiado para identidades culturais, singularidades da cultura de diversos povos, num mundo globalizado.
O festival tem uma proposta de informação e formação, apresentando não só filmes, mas organizando workshops e debates.

Estão presentes na Mostra, anualmente, os principais nomes da antropologia visual e do cinema documentário nacional e internacional.

Durante o festival realiza-se também o Fórum de Cinema e Antropologia, um conjunto de atividades voltadas para o debate e a reflexão de temas e questões dos dois campos. Vinculada aos mais importantes eventos que focalizam o filme etnográfico ao redor do mundo, a Mostra mantém contato com diretores de filmes, curadores de festivais e pesquisadores da área de antropologia visual.

O festival tem também a parceria do 1º Delhi International Ethnographic Film Festival, a ser realizado pelo Departamento de Sociologia da Delhi University, Índia em novembro de 2008, onde os filme selecionados aqui serão também automaticamente selecionados e exibidos lá.

Nesta edição a mostra recebe como participante oficial o curador do Festival Beeld voor Beeld da Holanda, Eddy Appels.

http://www.mostraetnografica.com.br

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

SULANCA SIM!


http://www.flickr.com/photos/estetica_da_periferia/944645775/

Um dos aspectos mais apaixonantes do ciberespaço é a instauração da comunicação de forma diferente das outras mídias, aqui as mensagens são interativas e transformam-se instantaneamente. Cada receptor torna-se também emissor, interferindo, discutindo, concordando ou discordando, mas explorando os temas, cada um, pelo seu ângulo de visão, acrescentando suas idéias nesse espaço aberto e de alcance mundial que vai se construindo com impressionante rapidez.

Os Blogs são uma das tantas ferramentas de ampliação desse espaço de opinião pessoal-universal compartilhada e é bem gostoso assistir a esse fenômeno, quando criamos o nosso e vemos os comentários postados exibindo os tentáculos dessa rede de informações. A partir desse espaço é possível se construir um apanhado de idéias, uma espécie de “enciclopédia” de autoria coletiva, sobre assuntos que não estão disponíveis nos sites sobre assuntos globalizados e de interesse do grande público. Podemos utilizar como exemplo, um link criado a partir de um comentário sobre um dos artigos desse Blog. “Estive em um evento realizado pela ASCAP e CDL com os candidatos a prefeito e uma pergunta feita aos dois políticos me chamou a atenção. “Você acha o termo sulanca pejorativo?” (Emanoel Glicério – Diário da Sulanca – domingo 19 de out de 2008).

Essa pergunta foi, o input para o nascimento desse artigo, exatamente, a gota d’água que faltava para acionar uma vontade latente de opinar sobre essa questão, independentemente de saber sobre os comentários que se sucederam à pergunta nesse referido evento ou qual seja a opinião do nosso povo sobre o tema.

A mim fica muito nítido o enorme contraste entre o desenvolvimento econômico e o cultural na nossa cidade. O surgimento do debate acerca da marca Sulanca é algo muito interessante, enriquecedor e até lucrativo, mas o que me faz ter essa opinião é o fato de se levantar a hipótese dessa nossa marca, de alguma maneira, desvalorizar nossos produtos, utilizando-se até esse termo perjorativo, no sentido da palavra mesmo! A questão é bastante outra, não é a marca Sulanca que nos desvaloriza, somos nós que a desvalorizamos com as nossas práticas.

O desinteresse pelo que é realmente nosso em detrimento do estrangeiro, do globalizado, do massificado, é algo já ultrapassado como ponto de partida para qualquer campanha publicitária sobre nosso produto, aqui ou em qualquer lugar do mundo. Nesse mundo que está à procura do singular, alguém achar que uma marca forte, de sonoridade ímpar, divulgada aos quatro ventos, de boca em boca por esse Brasil afora através dos seus bravos comerciantes “bandeirantes” que cruzaram o asfalto e os ares, desbravaram as grandes cidades trazendo do sul a nossa primeira estrangeira, a helanca, ou por milhares de estrangeiros clientes que nos visitam a cada feira, ou por nossa indústria empreendedora que se faz presente nos grandes eventos da área pelo mundo, enfim, já bastante conhecida, porém disfarçada de confecção, somente por ser uma palavra vinda da França, estrangeira como nossa cidade está se tornando. A palavra confecção, pelo uso, adquiriu o sinônimo de produto da indústria do vestuário, mas na verdade designa um processo, enquanto que nossa Sulanca já nasceu produto final. Vamos perder o medo de assumir nossa verdadeira e forte identidade santacruzense e bater no peito dizendo: Sulanca sim!

Eu acho até uma ofensa, uma falta de delicadeza, até um pouco de desprezo com aquilo que nos alimenta a tanto tempo, que faz com que nossas mais prósperas empresas possam se destacar e receber prêmios, que nos propicia tanta coisa “chique”.

Chique é ser único, como a Sulanca, apesar de nossas peças de “confecções” que levam essa marca, não serem tão únicas assim. A mudança tem que ser estrutural e cultural, temos que rever nossos métodos e imprimir a singularidade e autenticidade da marca Sulanca em nossos produtos, só assim poderemos reverter a auto-estima baixa dos nossos conterrâneos que acham nossa marca perjorativa.

Ela não traz em sua grafia letras estrangeiras, não é fashion, mas é um dos elementos mais fortes da nossa identidade que tem que ser visto e divulgado por outro prisma.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Patrimônio? De quem?

Hoje quero começar falando um pouco sobre o que significa a preservação do nosso patrimônio histórico, artístico e cultural.
Patrimônio Histórico é todo bem móvel, imóvel ou natural, material e imaterial, que possua valor significativo para uma sociedade, podendo ser estético, artístico, documental, científico, social, espiritual ou ecológico. Esses bens devem ser considerados de interesse relevante para a permanência e a identidade da cultura de um povo. São a nossa herança do passado, com que vivemos hoje, e que passamos às futuras gerações como documento de nosso modo de vida e das relações com nosso tempo e nosso meio.
Do patrimônio cultural fazem parte bens imóveis tais como igrejas, casas, praças, colégios, conjuntos urbanos, e ainda locais dotados de expressivo valor para a história, a arqueologia, a paleontologia e a ciência em geral. Nos bens móveis incluem-se, por exemplo, pinturas, esculturas e artesanato. Nos bens imateriais considera-se a literatura, a música, o folclore, a linguagem e os costumes.
Tratar desse tema nos leva a pensar na Constituição Brasileira, que traz em todos os seus títulos, dispositivos sobre cultura e, utiliza as técnicas de cooperação entre Município, Estado e União, implicando na necessidade do diálogo entre essas instituições, na elaboração de projetos e leis para que políticas públicas de preservação e fomento dos bens culturais sejam efetivamente desenvolvidas.
O reconhecimento e a proteção no nosso patrimônio é fator muito importante para que possamos refletir sobre as nossas origens e os costumes do passado e poder assim traçar-mos nossas metas futuras que poderão ser baseadas na extinção ou permanência de nossas práticas para a garantia da liberdade artística valorizando seu papel social. Essa consciência deveria ser a base da atuação dos poderes públicos e da fiscalização e cobrança dos direitos constitucionais pela nossa sociedade.
A arte, a memória coletiva e a transmissão dos nossos saberes e costumes são os três campos de atuação do poder público em relação à cultura, e formam o trio básico dos nossos bens culturais e que o poder público deveria proteger, apoiar, promover e garantir.
Queremos políticas públicas para a cultura na nossa cidade que reconheçam, respeitem e incluam a pluralidade das nossas manifestações, que executem as suas ações assegurando a participação dos nossos artistas e da população interessada em todo o processo de elaboração e desenvolvimento das mesmas.

Em Santa Cruz do Capibaribe, nosso patrimônio cultural é um dos assuntos mais ausentes nas políticas públicas municipais. Os nossos prédios históricos são demolidos, reconstruídos, remodelados ao bel prazer dos seus proprietários e ou gestores, sem nenhuma fiscalização, sem nenhuma responsabilidade para com as nossas gerações futuras.
Para citar apenas um exemplo de descaso com nossos bens culturais podemos nos lamentar com o fechamento e a depredação do prédio do Colégio Cenecista, antigo Ginásio Santa Cruz, fundado em 1956, nossa primeira “grande escola”, onde tínhamos, uma gruta de pedra, hoje é mais um canto esquecido, sem suas imagens originais e rodeada de lixo; Uma capela mobiliada com tudo que tinha direito, seu altar, bancos, imagens, lustres, etc, que hoje estão só na lembrança dos seus freqüentadores ou em algum lugar, ostentados como obras de arte particulares; Um telhado inglês que foi substituído por telhas sem nenhum valor arquitetônico e que passou muito tempo jogado num canto até que alguém desse um fim; A casa dos professores de tanto valor histórico quanto o prédio principal, derrubada para a construção de um prédio novo, que hoje abriga a secretaria de educação do município; Uma biblioteca que foi por muito tempo orgulho de seus estudantes e que hoje, foi esfacelada, divididos os livros que interessavam para quem se interessasse e o resto, coleções antigas, edições históricas com títulos de autores como Guimarães Rosa, Machado de Assis, Gilberto Freyre, entre tantos outros, jogados fora como num “munturo” para quem quisesse levar, apenas pelo preconceito com “coisas velhas”...
Até quando a nossa população vai fechar os olhos para tais monstruosidades?
Até quando vamos ver nossa história e memória se desmanchando no ar como se de nada valessem?
Fica a reflexão e o desejo de que muito em breve possamos falar de nossa cidade em outros termos.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Camelos no Jampa Vídeo Festival 2008


O SESC João Pessoa/PB abre suas portas de 14 a 17 de outubro para mais um festival nacional de cinema e vídeo, é o Jampa Vídeo Festival 2008. Foram selecionados para a mostra competitiva 43 filmes, dos estados da Paraíba, São Paulo, Pernambuco, Minas Gerais e Paraná que serão exibidos em duas sessões diárias às 15:00 e às 20:00 horas no cine-teatro do SESC-Centro. Santa Cruz do Capibaribe se faz presente em várias produções, no documentário "Camelos do Ingá" de Carlos Mosca e Ronaldo Nerys e em mais 04 produções. Carlos Mosca assina a direção de arte dos também concorrentes "Amanda e Monick" documentário de André da Costa Pinto (documentário mais premiado do cinema brasileiro no ano de 2008, que também estará presente este mês no Goiania Mostra Curtas/GO e no festival de cinema de Nova Yorque/Estados Unidos), "Banzo Analítico" ficção de Taciano Valério e "As Bonecas de Davi" ficção de Ronaldo Nerys, além da participação de outra santacruzense, Rosilane Salazar, como atriz em "Metanóia" ficção de Ronaldo Nerys.
É muito importante a participação de nossas produções nesses eventos, pois não só nos alegra pelo reconhecimento do trabalho, que diga-se de passagem, não é fácil de ser desenvolvido com as condições técnicas precárias, devido à falta de leis de incentivo e fomento a produções locais, mas leva o nome de nossa terra cada vez mais adiante com dignidade e qualidade. Outro fator importante é a divulgação das nossas empresas apoiadoras, a única forma que temos de contrapartida à atenção dispensada por elas aos nossos projetos.
Gostaria de aproveitar a ocasião para divulgar o tema do nosso próximo documentário a ser realizado na cidade. "Nossos antigos carnavais". Acontecimento global que, em Santa Cruz do Capibaribe, foi se perdendo ao longo dos tempos e hoje não existe mais.
Gostaria também de fazer um apelo à população, no sentido de sensibilizá-la sobre a disponibilização de fotos antigas, ou imagens de vídeo para que possamos fazer cópias e realizar o documentário a contento. Um povo sem passado é um povo sem referências para a construção de sua identidade, efeito que se reflete na absorção das culturas de massa com tanta facilidade pelo nosso povo. Nossa memória está se perdendo, temos que fazer alguma coisa para barrar esse processo ou em pouco tempo não teremos mais como sermos santacruzenses de verdade, com raízes sólidas o suficiente para enfrentar os fortes processos de aculturação decorrentes da globalização. Vamos defender a nossa cultura antes que seja tarde demais!

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

LAZER E CULTURA – Uma ferida aberta na nossa cidade

É impressionante o teor das discussões que encontramos nas comunidades do orkut de nossa cidade, a grande maioria dos tópicos trata de picuinhas políticas, outra grande parte fala das “festas”, das “bandas”, das cachaças, porém em meio a isso tudo encontramos muitas reclamações do tipo “Eu creio que todas as pessoas que moram aqui acham a mesma coisa, essa cidade tem muito pouco a oferecer em relação ao lazer.” (Eduardo). Reclamações de gente que vota, que paga seus impostos e que não vê o retorno deles nos vários setores da administração pública, até mesmo as que não reclamam e que inconscientemente preenchem seu ócio cultural com músicas da indústria de massa que só falam de cachaça e de sexo ou “tomando uma” nas mesas de bar, pagam seus impostos. E vale observar que a cerveja é uma mercadoria das mais tributadas e uma das mais consumidas na cidade.

Pois assim é, as pessoas reclamam de espaços para o lazer inexistentes na nossa cidade “concordo, tanto os jovens quanto os casais como os velhos
prescisam de diversão e aqui não tem nem uma praça.” (Marisdete) e tudo continua na mesma, se alguns quiserem esses direitos têm que investir neles, como é o caso das inúmeras praças construídas na cidade com investimento privado, assim como os calçamentos, etc.

Como sempre friso, nossa cidade tem um poder econômico muito forte, mas como muitos também reclamam “...Santa Cruz peca pela falta de visão (competência) dos seus empresários, administradores públicos e porque não, de sua população...” (Wallace Arruda). Eu chamo isso falta de responsabilidade social, uma das causas de enfraquecimento de empresas na atual conjuntura do nosso país, que hoje começa a cobrar seus direitos e que espero não demore a contagiar nosso povo. Nossos grandes empresários que financiam as campanhas políticas não cobram dos seus financiados um retorno desse investimento em ações e políticas públicas, eles querem apenas favorecimentos pessoais. O restante da população fica dividida entre seus funcionários, que na maioria dos casos, ainda não se libertaram dos cabrestos de seus patrões, e seus consumidores, que engolem tudo calados.

Ninguém cobra dos poderes públicos nas urnas e nem depois delas, quando estão eleitos os seus representantes, que não representam ninguém, a não ser a si próprios, tratando uma gestão pública como um “meio-de-vida”. Não temos quem defenda nossos valores culturais “É uma pena que nossa história esteja morrendo com os mais velhos e as novas gerações não dêem o devido valor e não resgatem e nem mantenham as raízes culturais dessa terra.” (Rozângela).

Nossos políticos não cumprem com o seu dever, talvez nem conheçam a nossa constituição que é clara em seus fundamentos, logo no primeiro capítulo quando os estabelece. A cidadania é o primeiro que é posto de lado, o poder que emana do povo, em nossa terra, é completamente desvirtuado. No segundo capítulo isso fica ainda mais claro “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.” Aqui isso é uma utopia!

O poder público tem o dever e não é favor, como é a nossa realidade, de fazer cumprir o que lá está escrito “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais. (Cap 3 seção 2 art 215) e ainda mais “A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do País e à integração das ações do poder público que conduzem à: I - defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro; II - produção, promoção e difusão de bens culturais; III - formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas múltiplas dimensões; IV - democratização do acesso aos bens de cultura; V - valorização da diversidade étnica e regional." (Emenda nº 48).

Alguém já procurou saber quais são os recursos que temos destinado à cultura na nossa cidade e onde e como eles são aplicados? Talvez não tenhamos tempo a perder com isso, a sulanca não deixa brechas! Porém as brechas da população na fiscalização da gestão desses recursos e na cobrança de transparência e eficiência é que faça com que nossa realidade seja exatamente essa que estamos vivendo.

Pra finalizar, tenho muita esperança que essas pessoas que reclamam no orkut cheguem ao ápice de sua indignação e organizem-se em torno dessa causa, antes que seja tarde demais e não possamos mais salvar nosso patrimônio e ele se perca por descaso de todos. Como parece ser a vontade de nossos gestores públicos. Isso não pode e não deve ficar assim!